Confraria SAV visita a capital da moda entre os brasileiros

Publicado por Rodrigo Hammer em 11 de outubro de 2015

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Texto: Benício Siqueira

Pelo sexto ano seguido, os integrantes de uma das confrarias de vinho mais antigas e atuantes de Natal, a SAV – Sociedade Amantes do Vinho – faz sua viagem para conhecer uma região produtora de vinhos, e o país escolhido em 2015 foi o pequeno Uruguai, que tem na sua capital, Montevidéu, um destino turístico que parece estar na moda entre os brasileiros.

Praça da Independência em Montevidéu

E os motivos são muitos para se conhecer esta bonita e agradável cidade, margeada pelo suntuoso rio da Prata. Primeiro porque é a cidade latino-americana com a maior qualidade de vida e figura entre as 30 cidades mais seguras do mundo. Conta com uma gastronomia, principalmente as carnes (a famosa parrilla) e frutos do mar (especialidades do país) mais um atrativo turístico com bons restaurantes, além dos vinhos, que hoje são de excelente qualidade, principalmente aqueles feitos com a uva Tannat, símbolo do país. E para os amantes do vinho, a boa notícia é que as principiais vinícolas ficam a poucos quilômetros de distância de Montevidéu.

Os uruguaios gostam de dançar tango em praça pública

Cidade mais populosa do Uruguai, Montevidéu tem pouco mais de 1,3 milhão de habitantes (o país tem cerca de 3,4 milhões de pessoas) e é perfeita para se visitar em um feriado prolongado. Mas por ser bem espalhada, a sensação que se tem ao andar pelas suas ruas é a de uma cidade pouco populosa, o que se reflete no trânsito, bem mais tranquilo que no Brasil.

O lindo Teatro Solis foi inaugurado no ano de 1856

Montevidéu é limpa, bem arborizada, com pessoas educadas e simpáticas, que recebem muito bem os turistas. É, também, a sede administrativa do Mercosul, e tem um excelente aeroporto internacional (Carrasco), bonito e moderno. Outro ponto importante para os turistas é a facilidade que existe para fazer a troca de moedas.

As casas de câmbio estão em todas as esquinas da cidade e, sem qualquer documento ou burocracia, troca-se facilmente real por pesos, real por dólares ou real por euro.

 

A visita a esta cidade deve começar pelo centro, na parte mais histórica, a chamada cidade velha. Como ele é pequeno, não demora mais que três horas para percorrer tudo com bastante tranquilidade. Não deixe de visitar a Praça da Independência, a Puerta de la Ciudadela, o lindo e centenário Teatro Sólis (existem visitas guiadas), a belíssima livraria Más Puro Verso e outras praças e prédios históricos nas proximidades, como o Palácio Salvo. E quando bater a fome, vá almoçar em um dos restaurantes do Mercado del Puerto. A dica é percorrer o caminho pela Sarandi, que é uma rua antiga onde só andam pedestres.

Grupo de natalenses que estava visitando o Uruguai

O restaurante mais famoso no Mercado del Puerto é o El Palenque, que serve a tradicional parrilla uruguaia com tudo o que se tem direito. Há também excelentes frutos do mar. A casa vive cheia de turistas e, no dia em que estive com a SAV lá, registrei a presença de outro grupo de turistas natalenses.

Vista da vinícola mais famosa do Uruguai, a Bouza

Ainda em Montevidéu, não deixe de conhecer o Estádio Centenário, passear pela rua da praia chamada de Ramblas, com bonitos prédios residenciais, restaurantes e bares à beira-mar. Os bairros mais nobres da cidade são Punta Carretas, Pocitos e Carrasco.

Outros dois lugares bastante frequentados pelos brasileiros no Uruguai são Colônia do Sacramento e o famoso balneário de Punta del Leste. Mas não vamos falar sobre eles agora. Fica para outra oportunidade.

Rótulos degustados pela Confraria SAV

A primeira vinícola visitada pela SAV foi a Bodega Bouza, que tem a melhor estrutura para receber os turistas. Ela é uma das mais importantes e premiadas do Uruguai, concentrando boa parte de sua produção de 100 mil garrafas ao ano em vinhos orgânicos de ótima qualidade. É também a mais próxima da capital, cerca de 20 minutos do centro.

Pescado do dia com legumes frescos

A visita começou pelos vinhedos com uma guia que explicou detalhadamente sobre as características do solo e os 6 tipos de uvas plantadas em 23 hectares de terra: Tannat, Tempranillo, Merlot, Albariño e Chardonnay.

Em seguida, fomos para o prédio onde funciona a adega e ficam os tanques e barris de carvalho onde os vinhos descansam. A explicação da guia centrou-se no processo de seleção e fermentação das uvas.

Restaurante dentro da vinícola Bouza

Depois, fomos conhecer a coleção privada de carros antigos dos proprietários da vinícola, exibidos num museu com 30 carros e motocicletas fabricados a partir de 1920. Detalhe: todos os veículos funcionam. Os carros chamam a atenção pelo excelente estado de conservação. Alguns modelos são raros hoje em dia.

Coleção de carros antigos da Bouza

A próxima parada na Bouza foi no lindo restaurante da vinícola (um dos melhores do Uruguai) com capacidade para receber, confortavelmente, 80 pessoas, onde participamos de um almoço harmonizado com cinco dos melhores vinhos da casa: os vinhos brancos Bouza Albariño 2015 e o Bouza Cocó 2013, os tintos Bouza Parcela Única Merlot B9 2013, Bouza Parcela Única Tempranillo B15 2013, Bouza Monte Vide Eu 2013 (Tannat, Merlot e Temnpranillo) e o Bouza Parcela Única Tannat B1 2013.

Vinhos degustados na vinícola H. Stagnari

Destaque para o vinho branco Cocó, um corte único no mundo elaborado com as uvas Albariño (70%) e Chardonnay (30%). São produzidas apenas 1.600 garrafas anualmente, e a primeira safra é de 2010. Nós degustamos um vinho da safra de 2013 e estava maravilhoso. Este vinho homenageia a falecida mãe do proprietário da Bodega, Socorro López de Bouza, que tinha o apelido de Cocó. O vinho tem uma coloração amarela dourada e no nariz apresenta aromas florais e de frutos tropicais. Na boca é gostoso com toques de mel.

Confraria SAV com Franco Stagnari, filho do proprietário

No almoço, foram servidos Polvo à galega com páprica; Picanha de cordeiro com molho de mostarda Dijon com purê rústico de abóbora e parmesão crocante, e Pescado do dia com legumes frescos. A sobremesa ficou por conta de um excelente Crème Brûlée.

Da Bouza, a SAV foi conhecer a H. Stagnari, a bodega de Tannat mais premiada do mundo. Os confrades foram recepcionados por Franco Stagnari, filho do proprietário e encarregado do setor de turismo da vinícola.

Almoço da SAV com o dono da vinícola Carlos Pizzorno

A H. Stagnari é uma tradicional vinícola uruguaia muito bonita, fundada por Héctor Stagnari, que em 1978 iniciou o plantio dos vinhedos. Tem um extenso portfólio de vinhos, com várias linhas de qualidade. Abrimos mão da visita aos vinhedos e fomos diretos para a sala de degustação, onde provamos vários rótulos, incluindo o Dinastia Tannat, um dos ícones da bodega.

No segundo dia, visitamos a Pizzorno, do enólogo Carlos Pizzorno, terceira geração à frente da bodega. Foi o próprio Carlos que recebeu a SAV e, com muito entusiasmo, nos levou para conhecer os principais vinhedos, quando falou com muito carinho da história de seu avô, que fundou a empresa.

Confrades visitaram as videiras na Pizzorno

A Pizzorno é uma vinícola familiar e pequena, porém elabora vinhos de muita qualidade e alguns surpreendentes, como o vinho de sobremesa Arazá, o único ice wine (vinho do gelo) do Uruguai. Carlos colhe as uvas um pouco mais tarde, faz o congelamento e depois a prensa. O resultado é um vinho com doçura refrescante e boa acidez.

Após conhecermos as instalações da empresa, degustamos 11 rótulos – alguns muito bem avaliados pelo Guia Descorchados – incluindo três safras do ícone da casa, o Pizzorno Primo 2004, 2006 e 2008, que estavam espetaculares.

O vinho Primo é o top da vinícola Pizzorno

As safras 2004 e 2006 não são mais comercializadas. E existem poucas garrafas na adega de Carlos, cujos vinhos não têm nem rótulo, tornando a degustação mais especial ainda. Para mim, o Primo 2004 foi o melhor vinho que eu bebi no Uruguai. Estava soberbo e não mostrava nenhum sinal de envelhecimento. Ele é feito com Tannat (50%), Cabernet Sauvignon (25%), Merlot (20%) e Petit Verdot (5%), e passou 24 meses em barricas francesas de primeiro uso. Foram elaboradas apenas 1500 garrafas. A sua produção só acontece em anos de safras especiais. No nariz evoca toques de pimentão, baunilha, cacau e tabaco, enquanto na boca é encorpado e muito bem equilibrado, com final longo. Os vinhos da Pizzorno são comercializados no Brasil pela importadora Grand Cru.

Degustação vertical do vinho Amat

Ao deixarmos a Pizzorno, fomos participar de uma degustação vertical às cegas do vinho Amat Tannat na vinícola Carrau, safras 1998, 2001, 2002, 2005 e 2009, conduzida pela sommelière Margarita Carrau. São vinhos premiados de alta qualidade. Por maioria, o vinho da safra 2001 venceu a prova, e mostrou ter grande potencial de guarda. Tem aromas de frutos vermelhos e especiarias e, na boca, apresenta bom equilíbrio com final persistente.

Membros da SAV avaliando os rótulos do vinho Amat

A Carrau é uma das vinícolas mais antigas do Uruguai e impressiona pela sua tradição, com mais de 260 anos de história. Possui cerca de 100 hectares de vinhedos de diversos tipos de uva e engarrafa, por ano, mais de 1,2 milhão de litros de vinho.

Os confrades degustaram 11 rótulos na Pizzano

No dia seguinte, fomos conhecer a vinícola Pizzano, que exporta seus vinhos para vários países. A recepção à SAV foi feita por Daniel Pisano, diretor e um dos três irmãos que administram a vinícola, que não costuma abrir suas portas para receber turistas.

Daniel fez um tour pela bodega, mostrando os vinhedos e as instalações antigas e modernas em que os vinhos são vinificados e envelhecidos, e depois nos levou para a sala de degustação.

Degustação da SAV com Daniel Pizzano, diretor da vinícola

Bom de conversa e muito simpático, Daniel continuou falando sobre a empresa e das suas viagens a vinícolas em outros países, enquanto abria 11 vinhos para a degustação, incluindo o top e surpreendente Axis Mundi 2011, um puro Tannat na linha superpremium. É elaborado com vinhas muito velhas de baixo rendimento, tem aromas complexos de frutas negras, couro, fumo e especiarias. Na boca, é estruturado e elegante.

Daniel Pizzano, diretor da vinícola

A programação da SAV às vinícolas encerrou-se na Familia Deicas, que produz vinhos e azeites de alto padrão. Foram sete vinhos harmonizados durante o almoço da SAV, sendo um espumante, um branco, três tintos e dois de sobremesa, um inesquecível e saboroso licor de Tannat.

Entre os tintos, não poderia faltar o famoso Prelúdio safra 2009, um corte de Tannat, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Petit Verdot e Marselan.

Antiga sala de degustação da vinícola Família Deicas

Outro vinho adorável que degustamos foi o Massimo Deicas Tannat Cru 2009, top da vinícola, que homenageia seu fundador. No nariz revela notas de frutas negras e madeira bem dosada. Em boca é estruturado com taninos muito finos.

Rótulos degustados pela SAV na Deicas

Para quem gosta da boa mesa, Montevidéu oferece opções bem diversas de restaurantes. Durante os cinco dias de visita da SAV ao Uruguai, conhecemos alguns dos bons endereços na capital. Saboreie, agora, nosso pequeno guia gastronômico:

RARA AVIS

Um dos melhores restaurantes de Montevideu, fica em um salão anexo ao Teatro Solis. O ambiente é sóbrio mas muito bonito, com direito a lustres de cristal e uma penumbra bem agradável, daquelas que deixa um clima gostoso para namorar.

O aconchegante ambiente interno do Rara Avis

Duas coisas chamam a atenção dos clientes: uma belíssima adega toda de vidro transparente com cerca de duas mil garrafas de vinhos do novo e do velho mundo, e um inusitado palco acima do bar com um pianista que, de vez em quando, toca lindas músicas deixando a noite super agradável.

O cardápio do Rara Avis é contemporâneo com boas opções de carne, massas e frutos do mar.

Rara Avis
Buenos Aires 652,
Montevidéu 11000 – Uruguai
Fone: 598 2915 0330

Restaurante Tandory
TANDORY

A cozinha deste restaurante reflete as experiências vividas pelo chef e dono da casa, o simpático Gabriel Coquel, que já trabalhou em vários países e faz questão de ir às mesas conversar com os clientes, deixando-os bem à vontade.

Tandory teme xcelentes pratos à base de frutos do mar

Sua comida é de autor e faz uma viagem por várias cozinhas do mundo, como a italiana, a francesa, a brasileira e asiática, resultando em pratos bem executados e de sabores e aromas surpreendentes. E para facilitar a nossa vida, o menu é num tablet com as fotos e descrições dos pratos, tudo superprático. O ambiente, bem decorado, é lindo e aconchegante, com serviço muito atencioso. Como a casa não é grande, é indispensável fazer reserva.

Tandory
Ramon Masini and Libertad, 11300
Montevidéu – Uruguai
Fone:598 2709 6616

O Panini’s é um dos melhores restaurantes de comida italiana
PANINI’S

Com duas unidades, uma na Ciudad Vieja e outra em Pocitos, o Panini’s é uma das melhores opções de Montevideu para quem deseja saborear uma boa massa, já que a casa tem um forte acento italiano. Porém, as carnes e frutos do mar também estão presentes no cardápio.

A unidade de Pocitos é mais moderna e tem um bar logo na entrada, e uma linda e rústica adega subterrânea com mais duas mil garrafas de vinhos. O salão é amplo e bonito, e a casa é sempre muito bem frequentada. Por isso, não deixe de fazer reserva.

Panini’s
26 de Marzo, 3586, Pocitos
Montevidéu – Uruguai
Fone: 6221232

BAR FUN FUN

O bar mais emblemático de Montevideu é o Fun Fun, que funciona desde 1895. É aconselhável fazer reserva, pois a pequena casa vive lotada de turistas e de locais. E é famosa por apresentar shows durante a noite toda, com destaque para dançarinos e cantores de tango. Porém é de madrugada que a animação cor­re solta, quando começa a tocar candobe, um ritmo local da cultura uruguaia. Aí ninguém se segura e todos dançam até quase de madrugada. O ambiente é decorado com recortes de jornais e fotos antigas de celebridades. E não deixe de provar uvita, um drink doce exclusivo da casa feito à base de vermute.

Bar Fun Fun
Ciudadela 1229 – Mercado Central, Liniers
Montevidéu 11000 – Uruguai

Fone: 598 2915 8005

1921 Restaurant, o mais sofisticado de Montevidéu
1921 RESTAURANT

O último restaurante visitado pela SAV foi o 1921 Restaurant, que fica dentro do belíssimo hotel Sofitel, no bairro de Carrasco, o mais requintado de Montevidéu.

Pato confitado com batata e gratinado com queijo reblochon

O ambiente do restaurante tem uma iluminação toda especial e na medida certa. As luminárias de cristal do teto chamam a atenção das pessoas. Quem assina o cardápio é o chef francês William Porte, que prioriza os sabores e ingredientes uruguaios em pratos muito bem elaborados. O cliente pode optar pelo serviço à la carte ou menu degustação.

SAV reunida no belíssimo 1921 Restaurant

O serviço do vinho é muito bem orientado pelo sommelier Frederico de Moura, premiado como o melhor sommelier do uruguai.

1921 Restaurant
Rambla Republica de México esq. Arocena
Montevidéu 11500, Uruguai

Fone: 26046060